sábado, 14 de dezembro de 2013

Burro Mirandês, o candidato...

Só falta  criar um partido, o esboço do discurso já está feito...
Caros Eleitores
 Apresento-me para recolher os vossos votos, e dirijo-vos algumas palavras. Aí vão elas:
Venho de uma antiga família do norte, ouso dizer que sou um burro com pedigree, um burro no sentido positivo da palavra: quatro patas e, sobretudo, pêlos.
Meu nome é Mirandês, e concorro contra “resmas” de imitações…

Caros Eleitores e Cidadãos,
Candidato-me porque vocês estão a ser enganados! Dizer que um PARLAMENTO é composto por imbecis e ladrões, que não representa a maioria dos votantes. Isso é falso!
Pelo contrário, um PARLAMENTO formado por deputados que são idiotas e ladrões representa perfeitamente os eleitores que vocês são. Não protestem; uma nação tem os líderes que merece! Porque vocês os elegeram…
Muitos de vocês não hesitam em dizer que “mudam-se as moscas, mas a merda continua”; que os vossos representantes vos enganam e que apenas pensam nos seus próprios interesses, em vaidades ou em dinheiro…
Então porque é que vocês os reelegem já nas próximas eleições?
Vocês estão a ser enganados, bons eleitores, vocês estão a ser enganados e bajulados quando vos dizem que vocês são bonitos, e que leis levam à justiça, e que estão do vosso lado…
Quando falam sobre a soberania nacional, do povo-soberano, dos homens livres... vocês estão a ser levados às urnas como a uma loja de guloseimas... eles dão-vos guloseimas para que vocês as chupem.
Vocês continuam a ser ludibriados.
Foi-vos dito que Portugal ainda é Portugal. Isso não é verdade.
Com o passar de cada dia Portugal perde seu sentido. Não é mais um país sólido, corajoso, um país que dá novos Mundos ao Mundo… Hoje o que temos é essa figura feminina, a que chamam de República, ajoelhada em frente dum trono de autocratas. É o corporativismo que renasce mais hipócrita que no tempo da outra Senhora… a velha Senhora, descendente duns ranhosos Velhos do Restelo…
Vocês estão a ser enganados, enganados sem parar. Eles falam-vos do Estado Social, e nunca a luta pelo pão foi mais evidente ou mais mortal…
E para vocês que não têm nada eles falam de patriotismo, do nosso património sagrado, até parece uma graçola…
Eles falam-vos de integridade, mas são os seus amigos da imprensa, comentadores e jornalistas prontos para fazer de tudo, mestres da enganação e chantagistas, que cantam as honras da nação.
Os apoiantes da República, os "piquenos burgueses", os "piquenos senhores", são mais resistentes que os "malandros", que os mestres dos actuais regimes. Nós vivemos sob os olhos dos supervisores.
Os trabalhadores enfraquecidos, produtores que nada consomem, contentam-se pacientemente em chupar o osso sem tutano que lhes é atirado, o osso do sufrágio universal. Somente para lhes contarem histórias, participar em debates eleitorais, em que movem seus maxilares, mandíbulas que já não sabem mais como morder…
E quando, em certas ocasiões, os filhos do POVO se sacodem de seu torpor e passam a se encontrar, como nas manif’s anti-TROIKA, dão de caras com as nossas bravas forças de segurança... que com o argumento das armas impõem a liderança de sempre…
A justiça é a mesma para todos. Os oneráveis ladrões fazem viagens para off-shores com seus carregamentos… e vós só carregais carrinhos de super-mercado vazios... As algemas, no entanto, apertam somente os pulsos dos mais fracos, como se fossem vagabundos.
A ignomínia do momento actual é tal que não há candidato que ouse defender a sociedade. Desde os burgueses virados para política, aos reaccionários, aos liberais, aos de falsos narizes empinados, aos republicanos…essas são as vozes que clamam para que o POVO os eleja, para que as coisas possam melhorar, para que tudo possa funcionar melhor.
Eles que já vos tomaram tudo, agora voltam para pedir ainda mais! 
Dêem-lhes os vossos votos, cidadãos!
Ouçam bom POVO, eles querem conquistar o poder... para melhor o poderem suprimir. Muitos invocam a Revolução, e enganam-se a si mesmos enquanto tratam de te enganar. Eleitores nunca farão a revolução. O sufrágio universal foi criado precisamente para evitar esta viril acção. E mesmo se algum incidente possa levar o POVO às ruas, e se um grupo preferir uma acção mais forte, o que poderíamos esperar duma multidão covarde e de cabeça vazia?
Que seja! Vão em frente homens da multidão! Vão em frente, eleitores! Às urnas... e não se queixem. É o suficiente. Não tentem inspirar pena, frente ao destino que vocês mesmos vos impuseram. Por fim não praguejem contra os mestres aos quais vocês se venderam. Esses mestres são vossos iguais na medida em que eles roubam de vocês. Eles, sem dúvida têm mais valia…
O eleitor não é nada além de um candidato fracassado.
Votem, eleitores! Votem! Os parlamentos emanam de vocês. Se algo é, é porque deve ser, porque não pode ser de outra forma…

 Texto adaptado da candidatura dum burro chamado Ninguém…
Zo d’AXA - PARIS 1898

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