Perante um texto tão incisivo e realista nada há a acrescentar que não seja a palavra PARABÉNS ao seu autor, neste caso o Dr. António Barreto, ponto final paragrafo...
"O regime já perdeu...
É uma história sem fim feliz. Qualquer que seja o desenlace,
ficaremos a perder. Portugal e o seu povo ficarão sempre a perder.
Evidentemente, se Justiça for feita, poderemos sempre dizer que ressuscitámos,
que a Justiça é a nossa Fénix. Se os culpados forem expostos e condenados e se
as vítimas e os contribuintes forem pelo menos moralmente ressarcidos (nunca o
serão financeiramente…), será possível dizer que, bem lá no fim, a Justiça
prevaleceu. Se assim for, poderá também afirmar-se que será possível, depois do
desastre, aprender com os erros. É uma consolação.
Mas ficaremos a saber que duas ou três (ou mais…) operações
politicas e financeiras de assalto ao Estado, a algumas das melhores empresas
portuguesas, aos recursos de milhões de depositantes, credores, accionistas e
investidores se desenvolveram durante anos. O que aconteceu com a cumplicidade
de um ou dois partidos políticos, com a participação activa de alguns dos
“melhores” banqueiros portugueses, com a intervenção maliciosa de um governo,
com a colaboração dolosa de vários gestores privados e públicos. Tudo isto
perante a incapacidade ou falta de poderes das entidades fiscalizadoras, diante
do silêncio das instituições e a coberto de uma comunicação social geralmente
mal preparada e dependente. Vários bancos foram liquidados. Diversas empresas
destruídas. Um grupo de insaciáveis sem escrúpulos tomou conta!
As instituições não tiveram poderes para intervir com
firmeza e honestidade. As instituições, por responsabilidades objectivas ou
subjectivas, não agiram quando deviam, não perceberam o que estava a acontecer.
Umas não puderam, outras não quiseram.
Falhou a opinião pública, falhou a imprensa e falharam as
instituições. Os governantes não falharam, porque eram cúmplices ou
protagonistas. Mas o Parlamento falhou, porque não cumpriu os seus deveres. Nem
quis saber. Os partidos não falharam, porque aproveitaram. Ou falharam, porque
não perceberam.
Primeira hipótese: encontramo-nos diante de uma colossal
operação de destruição de pessoas, partidos, governantes, empresas e bancos, a
comando de concorrentes ocultos e de abomináveis forças de conspiração. Nessa
versão, falham o regime, a democracia e a Justiça. Segunda hipótese: uma
monumental operação de expropriação e assalto ao Estado, por parte de políticos,
gestores e banqueiros, destruiu empresas e grupos, fez literalmente desaparecer
dez a vinte milhares de milhões de euros. Nesta versão, falham o regime, a
democracia, o sistema político, o Parlamento, as instituições e o capitalismo
português.
Convêm não esquecer que não se sabe onde pairam cinco a dez
mil milhões “desaparecidos”, mas que se encontram depositados a recato em
contas de famílias, seus mandatários, cães e gatos. A que terão de se
acrescentar cinco a oito milhares de milhões de outras histórias mal acabadas,
como a do BPN. Convém ainda não esquecer que as actuações de políticos,
banqueiros, bancários, gestores e empresários relativamente às PPP, aos SWAPS e
aos golpes em quase todos os bancos portugueses estão fora da alçada deste processo
Sócrates barra Salgado barra Espírito Santo barra PT.
Perdeu o regime e perdeu Portugal. Que ninguém pense que,
com excepção do ladrão, alguém vai ganhar e que o fim será feliz. Não. Ou perde
a economia, o mercado e a banca. Ou perde o mais importante partido político da
democracia, o seu líder durante seis anos e o seu único Primeiro-ministro com
maioria absoluta. Ou perde a democracia e o seu sistema político que conviveu
com parasitas da política ou das finanças, deixou pulhas roubar o Estado e permitiu
que velhacos roubassem depositantes, credores e accionistas de boa fé. Ou perde
a democracia e o seu sistema de Justiça que não consegue organizar um serviço
capaz de investigar eficazmente, arguir dentro de prazos decentes, julgar em
tempo e dar sentenças a horas. Ou perde o regime cuja classe dirigente é
incapaz de governar com honestidade e em democracia.
Ou perdemos tudo, que é o mais provável."
DN, 15 de Outubro de 2017
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