As palavras são do Sr. ROBERT DE NIRO e sem papas na língua, ou como também diz o POVO, "com eles no sitio", ao contrário de muitos que se calam, esquecendo que "quem cala consente", e neste jardim à beira mar plantado são cada vez mais os que primam pelo silêncio ou olham para o lado... ou quando abrem a boca, maioritariamente é para fazer o papel de papagaios, limitando-se a serem megafones do clube politico do coração... enfim "quem não sente, não é filho de boa gente"...
sábado, 13 de janeiro de 2018
FRÁGIL...
VULNERÁVEL. O ESTADO...
É talvez o momento ideal para
discutir coisas sérias. Só há eleições legislativas daqui a um ano. As reservas
de demagogia ficam para então. A coligação parlamentar está segura. No PS,
partido do governo, há quem queira pensar e discutir doutrina e programas.
Ocupado até agora com habilidades, este partido necessita de pensar. Na
oposição, há uma eleição crucial para o PSD. Este partido ainda sofre, justa e
injustamente, dos efeitos da austeridade e de dois anos de oposição. Tem
necessidade absoluta de repensar.
Todos os partidos precisam de
pensar, com certeza. Mas os dois principais, se o querem continuar a ser,
precisam disso como de pão. Se não o fizerem e se não esclarecerem, correrão
riscos de fragmentação ou de pulverização, a exemplo de grande parte dos países
europeus.
Mais de um ano antes de eleições,
há tempo para pensar e debater. Não chegará para tudo esclarecer, mas o
processo pode ter início. Que é cada dia mais urgente, com a crise europeia, as
ameaças de nova crise financeira e as tensões internacionais.
Para o debate português, entre
outras questões vitais, uma parece emergir: a da fragilidade do Estado. Os
últimos anos foram cruéis e reveladores.
O Estado ficou frágil diante dos
interesses de meia dúzia de grupos, de famílias e de bancos sem escrúpulos, com
métodos que incluíram o banditismo, o crime de colarinho branco e o
aproveitamento de oportunidades que o regime democrático oferecia.
O Estado esteve frágil perante as
actuações predadoras de bandoleiros que conseguiram utilizar todos os processos
democráticos de organização do poder político, da Administração Pública e dos
órgãos de soberania, para corromper, enriquecer e locupletar.
O Estado expôs fragilidades por
falta de inteligência e de ciência, ao ter de recorrer a empresas, assessores,
consultores e escritórios, que, dizendo o que o Estado queria ouvir, obrigaram
o Estado a fazer o que eles queriam que fizesse.
O Estado mostrou-se frágil por
ocasião dos incêndios de Verão, os quais, apesar de previsíveis, provocaram uma
das maiores hecatombes da história do país, no quadro de um fenómeno raro de
incompetência e de irresponsabilidade.
O Estado revelou-se frágil no
momento em que, imagine-se só, até os depósitos de armas das Forças Armadas
foram violados e roubados, na ausência, por enquanto, de infractores e de
responsáveis.
O Estado patenteou fragilidade
quando, nas operações de privatização, tantas vezes para entidades públicas
estrangeiras, não defendeu os interesses nacionais com mais rigor, seja a
estabilidade das empresas, sejam os direitos dos cidadãos e dos consumidores.
O Estado exibe toda a sua
fragilidade quando o sistema de Justiça, capaz, por um lado, de resolver
centenas de milhares casos do dia a dia, é, por outro lado, absolutamente
incapaz de, com respeito pelos direitos dos cidadãos e em obediência às regras
de uma democracia liberal, tratar a tempo e horas dos bandidos com grau
universitário, dos criminosos de colarinho branco, dos malfeitores com nome de
família, dos facínoras com propriedade, dos celerados com empresa, dos
delinquentes eleitos e dos corruptos com cartão de partido.
O Estado evidenciou a sua enorme
fragilidade ao não conseguir levar a bom termo, em tempo decente, processos de
investigação de um Primeiro-ministro, de ministros, de secretários de Estado,
de adjuntos e assessores do governo, de directores gerais, de presidentes de
institutos públicos, de presidentes de conselhos de administração e de
administradores de empresas públicas e privadas, de oficiais das forças armadas
e até de um chefe de polícia acusados há anos e à espera de não se sabe o quê.
Em tudo quanto diz respeito à
corrupção política, ao poder económico, às regalias dos partidos políticos e ao
privilégio de famílias com nome e fazenda, o Estado democrático encontra-se
jacente e moribundo.
O Estado português não está à
altura da democracia europeia, da liberdade e da protecção devida aos cidadãos.
DN, 7 de Janeiro de 2018 - Dr- António Barreto
sábado, 6 de janeiro de 2018
Criar raízes...
Os desastres deste ano vieram
actualizar um velho problema: o despovoamento, para uns, ou a desertificação,
para outros, de grande parte do país. Não apenas do interior clássico, mas do
interior social e económico que por vezes se aproxima a escassos quilómetros do
litoral ou até que inclui muita praia do centro do país ou do Alentejo. Aliás,
visto de São Petersburgo ou de Istambul, Portugal é todo litoral.
Por causa da violência dos fogos
e do número de vítimas mortais, os incêndios do Verão e do Outono deixaram
marca indelével no território, nos espíritos e na política. O governo reagiu
mal, mas, justamente corrigido pelo Presidente da República, mexeu-se e tentou
recuperar o tempo perdido.
Rapidamente se começou a discutir
as grandes questões, o ordenamento florestal e do território, as funções do
mercado, a criação de parques nacionais e o destino a dar às matas abandonadas.
Prontamente se ouviram promessas, umas velhas, outras muito velhas. A grande
demagogia regressou. Quase não há político que não fale das “raízes”, não as
das árvores, mas as das populações. Com o que se pretende “fixar populações”,
evitar as migrações, controlar a urbanização, trazer novas pessoas para “criar
raízes”… Chega facilmente a dizer-se que é necessário fazer com que as pessoas
“devam” (na versão despótica) ou “possam” (na versão liberal) ficar a viver
onde nasceram e cresceram. São temas inúteis que rendem sempre qualquer coisa
em comício ou à saída de jantar: “revitalizar o interior”, “impedir o
despovoamento” e “incentivar a natalidade”. Ao que não falta “trazer empresas
para o interior”, “criar incentivos fiscais”, “proteger a produção local”,
“criar emprego” e “encorajar o artesanato”. Há 50 anos e agora. As intenções
são tão boas que falta coragem para criticar o erro, a demagogia e a ilusão.
A verdade é que, para fixar
populações, só se conhecem meios ditatoriais, já bem rodados na China, no
Camboja e na União Soviética. Com centenas de milhares de vítimas. Ou milhões.
Fixar populações ou é demagógico e não serve senão para tentar ganhar votos, ou
implica retirar aos cidadãos algumas grandes liberdades que são as de movimento
e de mudança de local de vida. Para fixar populações, é necessário talvez o
planeamento integral da vida das pessoas.
Confundir despovoamento com
abandono é uma das raízes do problema. Terras despovoadas podem ser
economicamente úteis, desde que bem tratadas. Em muitos casos, é mesmo o
contrário que se produz: gente a mais significa incêndio, desleixo e acidente.
A decisão de viver na vila, na pequena cidade, na grande metrópole ou no
estrangeiro não é sempre uma decisão de miseráveis e desprotegidos. A decisão
de mudar é muitas vezes um passo para a promoção e a mobilidade, para melhorar
e subir na vida. Viver nas cidades traz quase sempre vantagens para a educação,
a saúde, o emprego, a cultura, o casamento, a justiça e o conforto. Em poucas
palavras, a liberdade é urbana. Em grande medida, o progresso também. Já se
conhecem em Portugal centenas de agricultores que vivem na cidade e trabalham
no campo. Felizmente que ninguém se lembrou de os fixar.
Evitar o abandono? Sim. Impedir a
degradação do meio? Sim. Aproveitar os recursos sem os destruir? Sim. Fixar as
populações? Não. Mas sim ao estímulo e à remoção de obstáculos. Assim como
evitar que sejam as autoridades as primeiras a acelerar o abandono. Destruir
instituições pode ser fatal. É o que tem feito o Estado, de esquerda ou de
direita, para poupar pouco a fim de gastar muito. Não faltam exemplos por todo
o país: escolas, centros de saúde, repartições, bancos, centros de emprego e da
segurança social, centros de formação, esquadras de policia, quartéis da GNR,
regimentos militares, lares de terceira idade, serviços florestais, parques
nacionais, áreas protegidas, serviços de conservação da fauna… Houve decisões
racionais? Talvez. Mas também as houve insensatas e de curtos horizontes.
Manter instituições pode ser
muito mais barato, democrático e livre do que acudir depois a subsidiar causas
perdidas. Áreas despovoadas podem não ser abandonadas. Áreas despovoadas podem
ser ricas e aproveitadas.
DN, 31 de Dezembro de 2017 por Dr. António Barreto
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