Belo texto de Clarice Zeitel, de 26
anos, premiada em 2012 pela UNESCO…
Onde já se viu tanto excesso de
falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios?
Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinónimo melhor para
BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do
que o excesso de falta de carácter, a abundância de inexistência de
solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma
combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que “dos filhos deste
solo és mãe gentil”, mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela
definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não “tapa o sol com a
peneira”. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado
uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da
escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome.
Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um
verdadeiro Pacote que fosse efectivo na resolução do problema, e que contivesse
educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação
pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de
escolha, acorrentada pela minha voz-nada-activa. A minha mãe sabe que eu só vou
crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.
Uma segue a outra... Sem nenhuma
contradição!
É disso que o Brasil precisa:
mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social
montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais
uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a
pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela
ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um factor
fundamental para o alcance da igualdade:
Nossa participação efectiva; as
mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As
classes média e alta – tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão
que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas
para isso?
Eu acredito profundamente que só
uma revolução estrutural, feita de dentro para fora e que não exclua nada nem
ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo
que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que
serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria
existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como
um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando
auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no
Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como
cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?