O destino do país está na mão de
aposentados. O presidente Cavaco Silva, a primeira figura do Estado, é
reformado. A segunda personalidade na hierarquia protocolar, Assunção Esteves,
é igualmente pensionista. Também nos governos nacionais e regionais há
ministros que recebem pensão de reforma, como Miguel Relvas ou até Alberto João
Jardim. No Parlamento, há dezenas de deputados nesta situação. Mas também
muitas câmaras são presididas por reformados, do Minho, ao Algarve, de Júlia
Paula, em Caminha, a Macário Correia, em Faro.
É imensa a lista de políticos no
activo que têm direito a uma pensão. Justificam este opulento rendimento com o
facto de terem prestado serviço público ao longo de doze anos ou, em alguns
casos, apenas oito. Esta explicação não convence, até porque uma parte
significativa deste bando de reformados não só não prestou qualquer relevante
serviço à nação como ainda utilizou os cargos públicos para criar uma rede
clientelar em benefício próprio. Foi graças a esta teia que muitos enriqueceram
e acederam a funções para que nunca estiveram curricularmente habilitados. A
manutenção até hoje destes privilégios e prebendas é inaceitável, em particular
nos tempos de crise que atravessamos. Sendo certo que a responsabilidade por
este anacronismo não é de nenhum destes políticos e ex-políticos em particular
- também é verdade que todos têm uma culpa partilhada por não revogarem este
sistema absurdo que atribui tenças milionárias à classe que mais vem destruindo
o país. Urge substituir este modelo pelo único sistema admissível que é o de
que os titulares de cargos públicos, quando os abandonam, sejam indemnizados
exactamente nos mesmos termos que qualquer outro trabalhador.
E que passem a reformar-se, como
todos os restantes cidadãos, quando a carreira ou a idade o permita. É claro
que dirigentes habituados a acumular reformas de luxo com bons salários jamais
compreenderão os problemas dos que têm de viver com salários de miséria; ou
sequer entenderão as dificuldades dos que sobrevivem apenas com pensões de
valor ridículo. Não serão certamente estes reformados de luxo que conseguirão
proceder às reformas estruturais de que Portugal tanto está a precisar.
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